quinta-feira, 21 de maio de 2009

Algumas coisas não mudam. Não muitas.

Hoje, ouvindo uma colega de trabalho reclamar com o filho ao telefone porque recebeu uma queixa da diretora da escola em que ele estuda, por ele ter ido à aula de chinelo, fiquei me lembrando do meu tempo de escola e percebi que algumas coisas não mudaram de lá pra cá. Não muitas.

Quantas vezes, eu e minhas amigas (não cabe citar o nome delas aqui, visto que, hoje, algumas, tornaram-se digníssimas senhoras casadas e mães de família exemplares .. rzs) pulamos o muro dos fundos da escola, nos estatelando do outro lado em cima dos cactos (colocados pela diretoria em locais estratégicos), só pra assistir aula de “chinelo”, usar uma calça jeans rosa, usar “kenner” ou “Opanka” (itens “Up” da moda da época, proibidíssimos pela direção) ou mesmo para perambular pelos corredores em horário de aula.



Pular o muro, em especial, era um ato de bravura, pois o citado muro mais parecia o muro de Berlim, e os alunos que conseguiam fazê-lo, eram vistos como destemidos pelos outros. Éramos os ditos “populares” da escola. Pulávamos tanto para entrar quanto para sair. O objetivo de sair era para assistir as estrelas do vôlei de praia que constantemente jogavam nos torneios na praia da armação ou pra ir ao cinema assistir filmes como ”Encaixotando Helena”, “A colheita Maldita”, “A liberdade é azul”, “A lista de schindler” - foi numa dessas puladas de muro que assisti “Parque dos Dinossauros” (e não me arrependo!!). Para o corpo docente da escola, porém, éramos vândalos e nossos pais frequentemente recebiam (quando entregávamos) bilhetes chamando-os a comparecer às reuniões de pais e mestres.

Pular o muro sozinho era tarefa árdua. Se atletas experientes, de posse de suas varas gigantescas tentassem, certamente sairiam, no mínimo, com as costas todas estropiadas, lascadas pelos vidros encravados no cimento no topo do muro. Eram necessários pelo menos duas pessoas pra conseguir carregar as toras de madeiras que escondíamos no mato e servia de escora para escalar o muro, sem falar nos tapetes que colocávamos por cima dos vidros para não nos cortar mais gravemente, pois, era inevitável um cortezinho que fosse – na verdade, eram mais um tipo de troféu - e finalmente vencer o obstáculo. Muitas vezes as toras que ficavam escondidas no relento ao sabor de sol e chuva, partiam no meio com nosso peso, tornando ainda mais difícil e engraçadíssima a empreitada. Nós ríamos mais que qualquer coisa.

Nos divertíamos fazendo reuniões para traçar estratagemas a fim de driblar a segurança, os fiscais, os professores e ainda os alunos “Caxias” que nos entregavam constantemente. Isso nos deixava eufóricas. É claro que existiam os que nos ajudavam como as “tias” da merenda, por exemplo, já que o muro mais baixo que cercava a escola, dava pros fundos da cantina. Apesar das peraltices, éramos alunas aplicadas, sempre tirávamos boas notas e nosso boletim estava sempre “azul”. Por isso, ganhávamos a simpatia de algumas “tias”, que espionavam os corredores verificando se a área estava livre para nossa passagem.

E foi nesse clima de quartel general divertido, que fiz grandes amigas, e me tornei a pessoa que sou hoje. Algumas dessas amigas estão presentes até hoje em meu círculo (quase intransponível) de amigos. Outras partiram dessa para outra existência, deixando muita saudade. Existia a molecagem, as brincadeiras, mas tudo dentro dos limites da moral e dos valores que aprendemos em casa - de respeito aos mais velhos, de amor ao próximo, união, solidariedade (pra pular o muro então!!!) - e levamos conosco pra vida toda. Nos tornamos mulheres, profissionais, mães, esposas, amigas dignas e sem um pingo de remorso ou vergonha da nossa adolescência.



A única dor de cabeça que dávamos à direção da escola era pular os muros sem farda, de chinelos, “cabular” aula pra ir à praia ou ao cinema.

Noutro dia, passei pela porta dessa escola que um dia estudei e vi algumas meninas com, no máximo 15 anos - minha idade na época - sentadas no muro lateral à escola, fumando maconha e namorando. Perto dali, alguns rapazes sentados na calçada do outro lada da rua, esperavam a saída dos alunos para vender drogas, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

fergos 21/05/09

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